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4 de nov. de 2008

TODOS OS ROSTOS, MENTES e CORPOS


Com o “Projeto:Todos Os Rostos, Mentes e Corpos que passaram por aqui”, Paulo Nazareth parece nos expor uma utopia, uma tentativa de arquivar o mundo ou as pessoas que passaram por aqui . Quando este artista propõe que os visitantes se sentem e se ponham a datilografar sua ficha de visita, passagem ou transição; este visitante já não é mais publico, mas parte integrante da obra, é preciso que este seja participante , pois só assim a obra se completa,mesmo que seja incompleta por essência. Por ser é um work in progress (um trabalho em processo), não estará pronto mesmo ao fim do período de exposição ; é impossível catalogar todos que passaram por aqui ou que ainda venham a passar. Mas isso não é problema do ou para o artista, penso que esta obra diz que a tentativa de registrar todas as ações do humano no mundo é fracassada. Nazareth parece apontar o fracasso das instituições de registro, órgãos de cadastro, etc. e até políticas de inclusão, de cadastrar , registrar e controlar a vida. Isso por que talvez o maior agente da inclusão é o individuo que se deixa incluir mesmo que passivamente.
Aqui o publico/colaborador , por que é assim que o artista o trata, tem um papel importante para a realização da obra, ele é não só convidado, mas solicitado a interagir com a obra. A participação do publico é tão importante que o convite desta exposição/projeto é dividido em duas partes, dois cartões postais um para aquele que vier ao espaço expositivo e outro para ser destacado por ele e enviado a um amigo que esteja distante, mas que passou por aqui. O visitante é solicitado a preencher sua ficha e também a ficha de alguém de seu convívio que não esteja mais aqui, isso dá a ele uma certa responsabilidade com a obra, e essas fichas são assinadas, parecendo assim que o artista divide com o outro a autoria ou responsabilidade de seu trabalho. O artista investiga a memória do publico a respeito de sua chegada e partida, tal como um departamento de imigração; procura fazer com que este mergulhe em suas lembranças a respeito da primeira vez que passou por aqui. Fotografias do arquivo do Centro de Cultura Lagoa do Nado são levadas a publico por meio da internet , e assim quem se reconhecer nessas imagens ou encontrar um conhecido pode se manifestar: fornecendo dados pessoais que completem a história desse espaço. Assim temos um arquivo virtual que é alimentado constantemente durante a exposição. O trabalho exposto nos diz que a consolidação desse lugar de convívio com arte e cultura, a Lagoa do Nado, é feita não somente pelo “artista” seja ele quem for, mas por aqueles que visitam e interagem com o espaço.
Para interagir com aqueles impossibilitados de comparecer ao espaço de exposição, o artista criou um endereço na web (http://www.todososrostos.blogspot.com/ / todososrostos@gmail.com ) , para visitas e trocas de informação. Dessa forma o lugar da exposição é ampliado, possibilitando que um maior numero de pessoas se inclua nesse arquivo em construção.
CATALOGO Nazareth de ARTISTAS QUE AQUI ESTIVERAM espaço lagoa do nado[ Para que Entrem Para a História da Arte], parece ser a tentativa do artista de se incluir, incluir o espaço e incluir outros artistas nos cânones da História Universal da Arte, parecendo ser isto, uma critica ao sistema de classificação de lugares e artistas importantes para o Mundo da Arte. Este catalogo é uma lista dos artistas que expuseram seus trabalhos nesse espaço , ao longo dos primeiros 15 anos de existência oficial do Centro de Cultura Lagoa do Nado. É um impresso em papel jornal, que é frágil e de fácil degradação, contendo os nomes e dados de diversos artistas que iniciaram carreira ali e que despontaram para o mundo e outros dos quais já não se tem noticias, assim parece dizer que a luta para entrar nessa História será longa e árdua. O “Projeto:Todos Os Rostos, Mentes e Corpos que passaram por aqui” merece ser visto como uma bela epopéia sobre o anonimato e a luta pelo não esquecimento.

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